sábado, 15 de agosto de 2009

O Augusto Dos Anjos da praça

A natureza do homem é ser volúvel. Certo dia, comentei com um amigo a manchete de um jornal que estava exposto em sua banca. Era mais uma daquelas “bombas” do cotidiano político que pululam no noticiário do nosso país. Uma dessas em que políticos são acusados de praticar coisas ilícitas envolvendo nepotismo, fisiologismo, e outros corriqueiros costumes dos nossos garbosos excelentíssimos representantes. O retorno que recebi do meu caro amigo foi no tom mais melancólico que já ouvi: – “quer saber quando o homem vai possuir algo que realmente poderá ser chamado de ética? Nunca!”
Ele continuou o discurso salientando a espécie de praga que é o ser humano no planeta, a hipocrisia que paralisa, o povo anestesiado que dá crédito á apatia, a alienação. Disse não enxergar o valor real do homem e do caos que fez no mundo. As pessoas iludem-se imaginando um mundo de liberdade, igualdade, fraternidade... são coisas impossíveis de se concretizar enquanto o fator soberano for a humanidade. O ser humano joga sempre ao lado de seus interesses, o resto é hipocrisia.
Bem, disse Machado de Assis na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas:”

“... eu via tudo o que passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia a indiferença, que era um sono sem sonhos; ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.”

Como viram, o pensamento pessimista vem de muito tempo atrás. Sempre existiu na cabeça de muitos “esclarecidos”, até na do nosso maior escritor. Em todas as épocas. E na do meu amigo jornaleiro, esse pensamento está cristalizado, lapidado no olhar que lança sobre o dia-a-dia.
Uma força inconsciente me inclina a pensar que eles tenham razão. Mas em relação a esse pessimismo, prefiro ficar naquele clube dos que nada sabem - cujo patrono é o filósofo Sócrates.

Um comentário:

  1. Mais uma vez, um belo texto. A maneira como os conceitos sócio-políticos são tangidos pelo fato corriqueiro de simplesmente comprar um jornal faz com que o que é escrito tome ares da nossa realidade atual. Parabéns!

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